Daniel Rafael, o Mourinho do Curling
Daniel Rafael é conhecido no meio como o “Mourinho do Curling” e embora este luso-canadiano seja o primeiro a rir da curiosa distinção, o seu palmarés explica-a em boa parte, com a conquista de vários títulos mundiais e uma medalha olímpica, de bronze, em Vancouver 2010, com a equipa feminina da China, entre outros, numerosos resultados de excelência. “Quando me falam dessa alcunha só digo que gostava de ganhar uma fração do que ganha o Mourinho”, dispara, com uma gargalhada.
Daniel Rafael, de 58 anos, é filho de mãe canadiana e pai português, mais propriamente de Cláudio Tinta Rafael, emigrante oriundo de Turquel, Alcobaça.
Começou no curling, no Canadá, com 8 anos. Uma opção que justifica com a imensa popularidade desta modalidade naquele país. “No Canadá, o curling é um dos desportos mais populares, a par do hóquei no gelo. Claro que se perguntar a um adepto de curling, ele vai dizer que o curling é a modalidade rainha, até porque tem mais troféus internacionais que o hóquei, mas isso é outra discussão…”, diz Daniel “Dan” Rafael, com humor.
Aos 22 anos começou a dedicar-se ao treino, acumulando como jogador, tendo-se dedicado exclusivamente ao trabalho de treinador em 2006. Mas podia ter jogado até muito mais tarde, já que a longevidade neste desporto é invulgar, explica o próprio: “O pai da minha companheira jogou até aos 90.”
O primeiro compromisso internacional que abraçou foi em 2007, com a Seleção Francesa de Curling, tendo alcançado um 7º lugar nos Mundiais da especialidade e, ainda no mesmo ano, com a China, as medalhas de ouro masculina e feminina dos Campeonatos do Pacífico. No ano seguinte, sempre com a China, foi quarto classificado no Mundial ao leme da equipa masculina e “varreu” os Campeonatos do Pacífico, com medalhas de ouro com as formações masculina e feminina. A carreira do “Mourinho do Curling” estava lançada.
Dando um salto no tempo para 2018, Portugal surgiu de forma curiosa, num cruzar de circunstâncias que o faz falar em “destino”: “Desde 2009 que não vivia no Canadá e estava a trabalhar muito na Europa. Para não estar sempre a solicitar vistos para viajar dentro da Europa, pedi o passaporte português e, eventualmente, pensei que talvez fosse interessante mudar-me para Portugal, mas a condição é que houvesse curling por cá.”
O interesse de Daniel Rafael encontrou eco numa página de Facebook fundada por João Cardoso. “Um amigo espanhol alertou-me para a existência da página e contactei-o. Tivemos várias reuniões sobre a modalidade e logo de seguida, num “timing Perfeito” como diz o próprio técnico, surgiu o interesse da Federação de Desportos de Inverno de Portugal. Após os primeiros contactos acordámos candidatar a FDI-Portugal a membro da Federação Mundial de Curling e o que normalmente pode ser um processo longo e burocrático, aconteceu rapidamente e, em três meses, Portugal foi aprovado como membro condicional”, narra Daniel Rafael que, nesta altura, conjuga o trabalho de Selecionador da Rússia com o de consultor da FDI- Portugal.
Apesar de uma carreira riquíssima com honras olímpicas, Daniel Rafael diz agora que o seu “maior feito será levar Portugal à elite do curling mundial”. E parece que, mais uma vez, o destino quer fazer o favor. “Estamos a trabalhar para que, pela primeira vez, Portugal, participe num Campeonato do Mundo de Curling Misto que se realizará em Aberdeen, na Escócia, entre 10 e 17 de Outubro deste ano”, congratula-se. Uma representação que será corporizada por quatro jogadores luso-canadianos e que tem ainda maior importância porque cumpre o requisito internacional para que Portugal passe de membro condicional a efetivo da Federação Mundial de Curling (WCF).
À espera de uma pista de gelo
A referência ao hóquei no gelo na conversa que tivemos com Daniel Rafael passa também pela excelente relação que mantém com Jim Aldred e Cristina Lopes, os responsáveis pela introdução da modalidade na FDI-Portugal mas também por uma necessidade comum. “Precisamos, no hóquei e no curling, de uma pista de gelo. Há interesse pelo curling em Portugal. Cada vez que falo disto com várias pessoas, desde o meu barbeiro, a um motorista de Uber ou o meu dentista, todos perguntam onde podem praticar. É uma infraestrutura essencial, que pode ser usada pelo hóquei, pela patinagem, pelo curling e por outras atividades. A sua existência seria uma grande mais valia para todos.”
PALMARÉS (seleção de resultados)
- 4º Campeonato Mundial masculino 2008 (pela China)
- 1º Campeonato Mundial feminino 2009 (pela China)
- 9º Campeonato mundial masculino 2009 (pela China)
- 4º Campeonato Mundial Duplas Mistas 2009 (pela China)
- 3º Jogos Olímpicos 2010 (equipa feminina China)
- 7º Campeonato Mundo Feminino 2010 (pela China)
- 8º Campeonato Mundo masculino 2013 (pela Rep. Checa)
- 7º Campeonato do Mundo duplas mistas 2014 (pela Rep. Checa)
- 1º Campeonato Mundial Duplas Mistas 2016 (pela Rússia)
- 2º Campeonato Mundial feminino 2017 (pela Rússia)
- 2º Campeonato do Mundo Duplas Mistas 2018 (pela Rússia)
- 2º Evento de Qualificação Mundial (pela Rússia)